A disfagia é uma dificuldade para engolir alimentos ou líquidos e pode ocorrer em qualquer fase da demência. Muitas vezes, os engasgos constantes são um dos primeiros sinais de que algo não vai bem — e, se não tratados corretamente, podem causar complicações graves como pneumonia aspirativa, desnutrição e até sufocamento.
Neste post, vamos entender por que a disfagia ocorre em pessoas com demência, como identificá-la e o que fazer na prática para tornar a alimentação mais segura e tranquila para quem você ama.
O que é disfagia e por que ela acontece em pacientes com demência?
A deglutição é um processo complexo que envolve cérebro, músculos da face, garganta e esôfago. Com a progressão da demência, especialmente nas formas mais avançadas, o cérebro começa a perder a capacidade de coordenar esse processo de forma eficaz.
Além disso, o paciente pode ter dificuldade para mastigar, esquecer como engolir corretamente ou até mesmo não reconhecer a comida como algo que deva ser ingerido. Por isso, é importante que nós, cuidadores e familiares, prestemos atenção aos momentos de alimentação da pessoa com demência, identificando engasgos ou mesmo a evitação em comer.
São sinais comuns da disfagia:
- Tosse ou engasgos frequentes durante ou após as refeições
- Sensação de “algo preso” na garganta
- Mudança no tom de voz após comer ou beber (voz “molhada”)
- Perda de peso sem explicação
- Recusa ou medo de comer
- Infecções respiratórias recorrentes
Se você observar um ou mais desses sinais, procure imediatamente um médico. Porque a disfagia exige avaliação profissional, que pode incluir encaminhamento para fonoaudiólogo especializado.
Na nossa experiência aqui em casa, sessões com fonoaudiólogos ajudaram bastante na recuperação da capacidade de mastigar e engolir da minha mãe. Em cerca de 10 encontros, ela reganhou a possibilidade de manter a alimentação via oral. Assim, sabemos que a disfagia não precisa ser uma sentença, mas mais uma coisa com a qual conseguimos aprender a lidar.
Como evitar engasgos: dicas práticas para o dia a dia
A boa notícia é que, com alguns cuidados simples como o da minha mãe, é possível reduzir muito os riscos de engasgos e tornar o momento da refeição mais seguro.
1. Adapte a consistência dos alimentos
Cada caso de disfagia é único. Alguns pacientes engolem melhor líquidos espessos; outros precisam de alimentos mais sólidos, porém bem amassados. Use orientações do médico ou fonoaudiólogo, mas em geral:
- Evite alimentos secos, com “fios” ou farelos (como farofa, carnes duras, arroz seco)
- Prefira purês, caldos engrossados, iogurtes e papas
- Use espessantes para sucos, chás e até mesmo água (há versões em pó no mercado)
2. Respeite o tempo do paciente
Nada de pressa. Deixe o cuidador ou familiar responsável alimentar a pessoa com calma, observando as reações a cada colherada, visto que os engasgos geralmente acontecem quando há sobrecarga ou distração.
3. Mantenha a postura correta
Durante as refeições, o paciente deve estar sentado com o tronco reto e os pés apoiados. Após comer, espere de 30 a 40 minutos antes de deitar. Isso ajuda a reduzir o risco de refluxo e aspiração.
4. Evite falar durante a mastigação
Conversas durante as refeições são bem-vindas, mas evite que o paciente fale enquanto mastiga. Isso pode desorganizar o processo de deglutição.
5. Esteja atento ao pós-refeição
Após comer, observe o paciente por alguns minutos. Engasgos podem acontecer mesmo depois que a refeição termina. Por isso, fique alerta para tosse súbita, rouquidão ou dificuldade para respirar.
Dica de ouro: envolva um fonoaudiólogo
Como já falamos, aqui em casa a presença deste profissional ajudou muito na manutenção da alimentação da minha mãe. Isso porque o fonoaudiólogo é o profissional mais capacitado para acompanhar casos de disfagia. Ele pode realizar testes específicos, indicar exercícios para fortalecer a musculatura da deglutição e sugerir dietas personalizadas para o estágio da demência.
E o lado emocional disso tudo?
É importante lembrar que o momento da alimentação é também um momento de afeto e conexão. Quando surgem dificuldades como engasgos, é comum que o cuidador se sinta culpado ou ansioso — e o paciente também pode desenvolver medo de comer.
Por isso, mantenha um ambiente tranquilo, com luz suave, sem distrações e com palavras de incentivo. Mostre ao paciente que ele está seguro.
A disfagia é só mais uma parte da demência
A disfagia é um desafio frequente no cuidado de pessoas com demência, mas pode ser manejada com orientação, atenção e afeto. Com adaptações simples e um olhar atento, é possível garantir refeições mais seguras e preservar a dignidade do paciente — e a tranquilidade do cuidador.
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