Sonda Enteral em Pacientes com Demência: Quando Iniciar a Alimentação por Sonda?
Uma das decisões mais difíceis que enfrentamos no cuidado com quem tem demência é o momento de iniciar a alimentação por sonda. Aqui em casa, minha mãe passou por isso há poucas semanas. E mesmo já sabendo que seria necessário em algum momento, a chegada da sonda nos trouxe muitas dúvidas, emoções e um certo medo do desconhecido.
Afinal, quando é a hora certa de iniciar a alimentação por sonda em pessoas com demência? Existe um momento ideal? O que considerar? Neste post, compartilho informações — e também minha experiência pessoal — para ajudar você que pode estar enfrentando essa decisão agora.
O que é a sonda enteral e por que ela é usada?
A sonda enteral é um tubo fino e flexível inserido pelo nariz (nasogástrica) ou diretamente no estômago (gastrostomia), com o objetivo de garantir a nutrição e hidratação quando a pessoa não consegue mais se alimentar pela boca de forma segura ou suficiente. Os médicos que acompanham os pacientes vão saber qual tipo de sonda utilizar e se será definitivo ou não, assim vale aproveitar o momento para tirar dúvidas com eles sobre cada caso específico.
Em casos de demência avançada, a perda da coordenação motora, a disfagia (dificuldade de engolir) e a apatia alimentar tornam a ingestão oral muito limitada — o que compromete a nutrição, a energia e a imunidade do paciente. Além disso, em casos de pacientes que continuam tentando realizar a alimentação via oral, há ainda o risco de engasgos (como já falamos aqui sobre disfagia: Disfagia em pessoas com demência: como prevenir engasgos) e de porções de alimentos ou mesmo água irem parar no trato respiratório, devido à problemas na deglutição, e causar até mesmo pneumonias.
Quando considerar a introdução da sonda?
Não existe um único critério que define o momento exato. No entanto, alguns sinais indicam que a alimentação por sonda pode ser necessária:
- Perda de peso significativa e progressiva
- Recusa constante de alimentos, mesmo os favoritos
- Fadiga ao tentar mastigar ou engolir
- Engasgos frequentes e risco de aspiração pulmonar
- Queda na ingestão de líquidos e sinais de desidratação
- Avaliação médica apontando risco nutricional severo
No caso da minha mãe, a decisão veio após uma internação (a primeira) por pneumonia. Assim que chegou no hospital, a introdução da sonda enteral foi a primeira medida dos médicos para evitar engasgos e bronco-aspirações, que acontecem quando o alimento, água ou saliva, vai parar nos pulmões ao invés de seguir para o estômago.
A decisão é sempre difícil — e emocional
Quando se trata de uma pessoa amada, especialmente um pai ou mãe, essa escolha é carregada de sentimentos. A sensação de “invadir” o corpo do outro, de tomar uma decisão em nome de alguém que já não pode se expressar, pode ser dolorosa.
É importante lembrar que usar sonda não significa desistir. Ao contrário: é uma forma de manter a pessoa nutrida, com mais conforto e menos sofrimento, quando a alimentação oral já não está mais funcionando.