Quando minha mãe foi diagnosticada com demência, provavelmente Alzheimer, eu tinha apenas 13 anos. Na época, meus pais ainda eram considerados jovens, tinham 55 anos, e mesmo assim tudo virou de cabeça para baixo.
Enquanto minha mãe enfrentava os primeiros sintomas e os efeitos dos remédios, meu pai tentava reequilibrar a rotina e cuidar de nós duas. E eu, ainda adolescente, tentava entender como lidar com a ausência emocional da mãe que sempre esteve ali — presente, firme, carinhosa — e assumir o papel de ser alguém que cuida.
Demoramos anos para entender que também éramos afetados pela doença. Porque durante muito tempo, nosso foco foi atender exclusivamente às necessidades dela e terminamos por esquecer de nós mesmos. Por isso, não é exagero dizer que carreguei cicatrizes emocionais por muitos anos além do necessário, justamente por não ter acolhido a minha dor desde o início.
Se você também é cuidador — especialmente se é filho, filha, neto, cônjuge —, quero te dizer com carinho: você também importa e a sua saúde mental precisa ser prioridade.
O impacto das demências na saúde mental do cuidador
As demências não afetam apenas o paciente. Elas alteram dinâmicas familiares, provocam luto antecipado, sobrecarga emocional e física, isolamento social e, muitas vezes, sentimentos de culpa e frustração.
É por isso que o cuidado precisa ser ampliado: cuidar do paciente e cuidar do cuidador. Para isso, existem várias formas de olhar para a saúde mental do cuidador de pessoas com demência, que vão fazer mais ou menos sentido de pessoa para pessoa.
Para nós aqui de casa, as terapias em grupo não funcionam tanto, já o acompanhamento com psicologia tradicional tem sido essencial. O importante é encontrar uma forma de preservar a saúde mental do cuidador de forma pessoal e específica. Assim, pode ser que para algumas pessoas a arteterapia vai ser uma atividade incrível, já para outras será a prática de um esporte ou mesmo o acompanhamento psicológico ou psiquiátrico.
Depois de 20 anos de cuidados com minha mãe, experimentamos diferentes formas de cuidado com a saúde mental (com maior ou menor noção de que precisávamos tanto delas) e posso elencar algumas delas. Talvez alguma delas funcione para você.
5 formas de cuidar da sua saúde mental sendo cuidador:
1. Terapia é autocuidado, não luxo
A terapia pode te ajudar a processar o luto, a raiva, o cansaço e o medo — sentimentos normais e válidos durante o processo. Assim, buscar ajuda psicológica é uma das decisões mais sábias que você pode tomar.
2. Participe de grupos de apoio
Existem comunidades presenciais e online voltadas para cuidadores, em que você pode dividir experiências, sentir-se compreendido e aprender com outros que passam pelas mesmas dificuldades.
3. Divida a carga mental
Nem sempre dá para dividir as tarefas, mas é possível dividir o peso. Converse com amigos, familiares ou vizinhos próximos. Isso porque falar já é um alívio.
4. Permita-se momentos de lazer
Um filme leve, um banho demorado, uma caminhada, um hobby antigo. Você não precisa se sentir culpado por sorrir, descansar ou cuidar de si. Pelo contrário, a demência de uma pessoa querida é um estado permanente, precisamos aprender a conviver com ela de forma saudável.
5. Organize uma rede de apoio
Durante muito tempo rejeitei a ideia de uma rede de apoio. Pensava: “se a mãe é minha, quem tem que cuidar sou eu mesma”. Mas não é bem assim. Ter ajuda é essencial. Porque, mesmo que pequena, uma rede de apoio é indispensável: ter um cuidador eventual, alguém que possa ficar algumas horas por semana, um serviço público ou particular. Ter essa rede é o que permite respirar.
Lembre-se, você não está sozinho
Se você chegou até aqui, talvez precise ouvir isso hoje:
Você está fazendo o melhor que pode. E é possível cuidar com amor sem se anular.
Cuidar da sua saúde mental é um ato de amor pela pessoa que você cuida — e por você.
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Você pode ser o apoio que alguém está precisando agora.
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